O presente artigo insere-se em uma linha voltada a investigar as relações entre as instituições, o Estado e o desempenho econômico. Tem como objeto central o estudo dos Estados Desenvolvimentistas (Developmental States), isto é, estados intervencionistas que desempenharam papel central nas estratégias de desenvolvimento de alguns países. A despeito de inúmeras análises históricas sobre essas experiências, o tema é considerado controverso e muitos economistas relutam em aceitar que tais estados tiveram uma contribuição positiva. O artigo lida, portanto, com um tema muito caro à ciência econômica desde os seus primórdios, a relação entre o Estado e o mercado e seus impactos sobre a "riqueza das nações". O presente artigo pretende contribuir para essa temática por meio de uma crítica às análises mais abstratas voltadas a interpretar o modelo asiático e a crise de 1997. Identificando uma falha metodológica nessas análises, argumenta-se que a crise não pode ser deduzida de eventuais fraquezas institucionais do modelo sul coreano. As características institucionais, incluindo o Estado desenvolvimentista e os grandes grupos empresariais, foram variáveis centrais para explicar o grande êxito alcançado pela Coréia do Sul nas décadas que se seguiram a 1960. Nesse sentido, as dificuldades dos anos 1990 devem ser interpretadas como resultado de um processo apressado de liberalização e desregulamentação econômica, implementado antes que uma nova estrutura de regulação estivesse pronta para substituir as formas de coordenação vigentes no período anterior. Ao recusar certas interpretações da crise, o artigo enfatiza a importância de reconhecer as especificidades institucionais dos países e a existência de diferentes tipos de capitalismo. O caso sul coreano, assim como o japonês, ilustra um modelo de capitalismo em que o Developmental State desempenhou um papel muito ativo, constituindo-se em uma variável fundamental para explicar o grande sucesso obtido pela estratégia de desenvolvimento nesses países.
The present article is part of a theoretical line that researches the relationship between institutions, the State and economic performance. Its central object is the study of Developmental States, that is, interventionist states that performed a central role in the development strategies of certain countries. In spite of the numerous historical analyses that have been carried out regarding these experiences, the theme is considered controversial and many economists are reluctant in accepting that such states made any positive contribution. The article therefore deals with a theme that is very dear to economic science from the upstart, the relationship between State and market and its impact on the "wealth of nations". It attempts to contribute to this issue through a critique of more abstract analyses geared toward interpretation of the Asian model and the 1997 crisis. Identifying a methodological flaw in these analyses, we argue that the crisis cannot be deduced from possible institutional weaknesses in the South Korean model. Institutional characteristics, including the developmental State and large entrepreneurial groups, were the central variables used to explain South Korea's major success in the decades that followed 1960. In this regard, the difficulties of the 1990s should be interpreted as the result of a hurried process of economic liberalization and deregulation, implemented before a new regulatory structure to substitute earlier forms of regulation could be established. In refusing certain interpretations of the crisis, this article emphasizes the importance of recognizing the institutional specificities of different countries and the existence of different types of capitalism. The South Korean case, just as the Japanese one, reveals a model of capitalism in which the Developmental State played an extremely active role, constituting a fundamental variable for explaining the major success that these countries' development strategies were able to achieve.
Cet article fait partie d'une ligne d'étude centrée sur l'investigation des relations entre les institutions, l'État et la performance économique. Il a comme objet principal l'étude des États développementistes (Developmental States), c'est-à-dire les états interventionnistes qui ont joué un rôle important dans les stratégies de développement de certains pays. Malgré plusieurs analyses historiques sur ces expériences, le thème est considéré comme conflictuel et bien des économistes résistent à accepter que ces états ont positivement contribué. L'article porte, donc, sur un thème cher à la science économique depuis ses origines : la relation entre l'État et le marché et ses conséquences sur « la richesse des nations ». Il envisage aussi de contribuer à cette thématique à travers une critique des analyses assez abstraites consacrées à l'interprétation du modèle asiatique et la crise de 1997. En identifiant une erreur méthodologique dans ces analyses, nous argumentons que la crise ne résulte pas d'eventuelles faiblesses institutionnelles du modèle sud-coréen. Les caractéristiques institutionnelles, y compris les États développementistes et les grandes entreprises, sont des variantes centrales pour expliquer la grande réussite de la Corée du sud dans les décénnies après 1960. Ainsi, les difficultés des années 1990 doivent être interprétées comme le résultat d'un processus accéléré de libéralisation et dérèglement économique, mis en oeuvre avant qu'une nouvelle structure de régulation ne soit préparée pour remplacer les formes de coordination en vigueur dans la période précédente. En refusant certaines interprétations de la crise, l'article met en évidence l'importance de reconnaitre les particularités institutionnelles des pays et l'existence de différents types de capitalisme. Le cas sud-coréen, ainsi que celui du Japon, illustre un modèle de capitalisme dont le Developmental State a joué un rôle essentiel, ce qui constitue une variante fondamentale pour expliquer le succès obtenu par la stratégie de développement dans ces pays.